Amador, o líder da grande revolta de escravos de 1595, é uma figura emblemática da história de São Tomé e Príncipe.
A figura de Amador tornou-se o centro da História de S. Tomé e Príncipe a partir do momento em que suscitou interesse de muitos estudiosos os quais têm refletido sobre o seu desempenho na ilha de S. Tomé nos anos noventa do século XVI. Esse interesse foi motivado pela escolha que o primeiro governo pós-independência fez dos seus heróis escolhendo Amador, e também João Rodrigues Gato (Yon Gato), para justificar que, afinal, houve figuras históricas que desencadearam lutas pela libertação do território, pretendendo, assim, contrariar a tese dominante na época, segundo a qual, os são-tomenses não lutaram pela independência. Dizia-se que ela foi, simplesmente, entregue aos ilhéus numa “bandeja”. Por conseguinte, o primeiro governo pós-independência sentiu a necessidade de escolher entre os históricos quem efetivamente se levantou de armas em punho contra o regime colonial.
Origem de Amador
Muitos historiadores referem-se a Amador como um negro angolar que chefiou a revolta dos rebeldes angolares contra os brancos na ilha de S. Tomé e fez-se aclamar pelos seus apoiantes rei de S. Tomé. Mas nem Cunha Matosnem Lopes de Lima ou Galvão e Selvagem associam Amador à etnia angolar. O primeiro escritor que parece ter estabelecido uma ligação direta de Amador aos angolares foi Vasconcellos (1918: 9) ao referir-se que “… pelo êxodo dos agricultores para o Brasil, por causa das atrocidades dos angolares revoltados, sob o mando do negro Amador …”, na sua obra Colónias Portuguesas, S. Tomé e Príncipe: Estudo Elementar de geografia física, económica e política.
Por coincidência ou não, quarenta e três anos mais tarde, após a narrativa de Ernesto Vasconcellos, Tenreiro (1961: 73) viria a produzir afirmação idêntica ao escrever que “De 1595 a 1596, esta [ilha de S. Tomé] chega mesmo a cair nas mãos dos angolares, chefiados pela figura, já lendária, de Amador.” Importa dizer que Tenreiro não cita Vasconcellos, mas teve acesso a Galvão e Selvagem.
Depois da obra de Tenreiro, escritores portugueses e estrangeiros, os quais não tiveram acesso a nenhum dos manuscritos referidos, têm repetido esta narrativa[4]. A confusão surge porque Amador chefiou a rebelião com a participação de escravos e o envolvimento de angolares e daí muitos, entre os quais a generalidade dos são-tomenses, acreditam que Amador era angolar ao invés de um escravo cativo que de facto era.
No manuscrito do vaticano, Amador é descrito como um negro escravo de roça, no tempo em que governava a ilha D. Fernando de Meneses e é considerado um negro escravo cativo no manuscrito de Rosário Pinto.
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